A Floresta vive em mim

Em dado momento da trajetória humana sobre a Terra, foi-se embora o contato íntimo com o Divino. Perdemos a relação com a divindade e, consequentemente, consigo mesmo. Vestimos panos ostensivos e nos despimos da nossa essência. Primeiro o corpo, depois o Espírito. Passamos a nos identificar com o invólucro e a negligenciar o conteúdo.

Emergiu a racionalidade. A dualidade maniqueísta. O progresso científico. E a decadência progressiva. As gigantescas muralhas da lógica que se ergueram contra tudo o que prescinde de explicação. A soberba que pouco entende mas tudo explica. Até mesmo, quem diria, o inexplicável. O Mistério, afinal, é misterioso demais para ser admitido.

Parece que perdemos a visão. Atrofiamos a intuição. Afeiçoamo-nos às ilusões inebriantes e fomos expulsos a pontapés do paraíso. Fomos retirados à força do seio materno e atirados a um ambiente hostil e cinzento, ao qual nos acostumamos e onde assistimos à nossa liberdade ser emparedada por um mundo agora demasiado concreto…

Mas a Natureza, ainda assim, espera. Pacientemente. Esperançosa. A Terra apenas aguarda o retorno dos seus filhos. A separação foi necessária pelo tempo que foi necessária, e pronto. Agora, lentamente retorna o filho ao lar. Ele lembra de todos os cheiros, todas as cores, de todas as texturas. Tudo ali lhe é familiar. Ele nunca se ausentou, afinal.

A Floresta vive em mim.
Os rios correm em meu sangue.
As raízes brotam de meus pés.
O Fogo queima em meu peito.


Penso, logo existo?
Não.
Amo incondicionalmente, logo existo.