No princípio dos tempos, falávamos à Natureza e ela nos falava de volta. Nossa língua era a Unidade. Compreendíamos a melodia dos pássaros e os conselhos oferecidos por todos os seres. Bebíamos da fonte da Divina Sabedoria! Ainda não tínhamos enaltecido as nossas diferenças a ponto de nos separarmos. Não havia qualquer diferença entre nós e os demais reinos da Criação, afinal. O Amor era a poesia que escrevíamos juntos e os nossos corpos dançavam a mesma dança. Eis que, em dado momento, por algum descuido, nós escolhemos nos afastar da Perfeição. E, não por fruto de acaso, parece que Deus ficou também mais distante…
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Antes, o invisível era tão real quanto o visível, pois o império do ego e dos sentidos ainda não tinha se estabelecido sobre a consciência. Buscar o espírito não era necessário, pois nos encontrávamos naturalmente imersos naquele oceano límpido. Voávamos naquele Céu exuberante, entre os sete espectros de cores. Contemplávamos, em infindável êxtase, a beleza de todas as coisas e a Vida era bem-vinda em todas as suas imprevisíveis manifestações. O Outono escuro da alma nos era tão magnífico quanto o radiante amanhecer da Primavera. O medo era uma sombra que vagava distante das nossas Florestas. Guardávamos a chave dos Mistérios.
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Desejávamos pouco. E tínhamos tanto… Morrer era apenas renascer dali a pouco. Caminhávamos entre os animais, os cristais e os vegetais. A felicidade inocente era a riqueza que partilhávamos. O Vazio era um campo de infinitas possibilidades que desfrutávamos feito crianças diante de uma folha em branco, colorindo mundos e concebendo realidades. A mente ainda não havia se embotado de dúvidas e anseios. Bastava-nos a sabedoria da simplicidade. Agradecíamos o ar, o alimento, o calor e o corpo que tomamos emprestados para mais um breve passeio pelos lados de cá. Eternos viajantes do sem-fim.
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Agora, sob as bênçãos da Natureza, nós escolhemos retornar! Magos, curandeiras, feiticeiros. Sacerdotisas, camponeses, artesãs. Encantadores de nuvens, tecelãs de sonhos, guardiões de encantos. De volta aos braços da Divina Mãe, com os rostos tingidos de múltiplas cores, das feições que escolhemos usar antes de nos lavarmos naquele rio e repousarmos à sombra da grande árvore. A Lua e o Sol se abraçaram, apaixonados, e nossas lágrimas enfeitaram os nossos sorrisos.
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No fim, era tudo Infinito. Estávamos em casa novamente…
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Arte: @joaocunico_
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